02.07.01 | José Maria Rosa Tesheiner

O comunicador e a democracia

Entre as condições imprescindíveis ao bom funcionamento da democracia (condições instrumentais), inclui-se a existência de um sistema que redunde na formação de uma opinião pública esclarecida e racional. Só assim poderá haver decisões ao menos minimamente adequadas à condução dos negócios públicos. Sem isso, não há democracia, não passando as eleições de uma escolha, aleatória e passional dos governantes. Avulta, assim, a importância dos meios de comunicação de massa tanto no fornecimento das informações com que o povo contará quanto na elaboração do próprio quadro conceitual que servirá à sua avaliação.Todavia, os meios de comunicação de massa constituem também perigosos agentes de manipulação. São imprescindíveis para formar a opinião pública no Estado contemporâneo mas são igualmente usados para guiá-la ou corrompê-la.Depois de tecer essas considerações, Manoel Gonçalves Ferreira Filho desenha o perfil do comunicador:Os comunicadores constituem, não uma classe, mas um tipo social. Especializam-se em discutir e transmitir idéias que não criaram e muitas vezes nem entenderam. E o fazem com grande facilidade, na medida em que não se sentem responsáveis pelas conseqüências do que dizem ou escrevem. Não hesitam em face de qualquer assunto - mesmo que não tenham qualquer conhecimento aprofundado, nem qualquer experiência vivida a seu respeito. São, por princípio, críticos e consideram-se autorizados a julgar inapelavelmente a conduta dos outros bem como a ditar o que todos, particularmente as autoridades, devem fazer.Sofrem a compulsão da novidade. Tudo o que aparece no meio intelectual, ainda que seja mera especulação inicial, é apresentado como 'científico', como 'progresso', considerado bom, positivo e adotado sem maior análise. Quando um grupo subscreve uma tese ou assume uma posição, todos os demais o seguem sem pensar, porque do contrário estariam desatualizados...Dado o controle que têm sobre os meios de comunicação de massa, mormente sobre a televisão, seu poder, para o bem e para o mal, é muito grande. Não raro estabelecem o padrão do 'politicamente correto', influenciando profundamente a comunidade. Pior, como só difundem uma face das coisas - a que lhes parece importante ou 'valida', acabam por fixar o padrão de 'verdade', a que a maioria adere.Esse perfil é poucas vezes apresentado em sua crueza, porque faze-lo é arriscar a inimizade dos comunicadores, com as conseqüências que se podem imaginar.(A democracia no limiar do século XXI. São Paulo, Saraiva, 2001. p. 143 e ss.)


TESHEINER, José Maria Rosa Tesheiner. O comunicador e a democracia. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 1, nº 38, 02 de Julho de 2001. Disponível em: https://paginasdedireito.com.br/artigos/todos-os-artigos/o-comunicador-e-a-democracia.html
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Editores: 
José Maria Tesheiner
(Prof. Dir. Proc. Civil PUC-RS Aposentado)

Mariângela Guerreiro Milhoranza da Rocha

Advogada e Professora Universitária

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